INTRODUÇÃO: UM ENCONTRO COM O DESAFIO
Sobre TDAH em crianças, imagine a cena: Luísa, mãe de Pedro, um garoto de oito anos, começa a perceber que ele tem dificuldade em se concentrar nas tarefas escolares. Enquanto os colegas de classe finalizam os deveres, Pedro está disperso, mexendo nos lápis, olhando para fora da janela. Além disso, ele parece esquecer constantemente as instruções e é frequentemente repreendido por se mexer demais na cadeira. Luísa começa a se perguntar se isso é normal para a idade de Pedro ou se há algo mais acontecendo. Esse cenário é familiar para muitos pais. E a resposta pode estar no TDAH – Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade.
O TDAH é um transtorno neurobiológico que afeta milhões de crianças no mundo todo e, embora muitas vezes associado à infância, também pode persistir na vida adulta. Saber identificar os primeiros sinais pode fazer toda a diferença no desenvolvimento da criança e no sucesso de suas interações sociais e acadêmicas. Neste artigo, vamos abordar os principais sintomas do TDAH, como diferenciá-los de comportamentos comuns da infância e, principalmente, como buscar ajuda especializada o quanto antes.
O QUE É O TDAH?
O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é uma condição neurobiológica caracterizada por padrões persistentes de desatenção, hiperatividade e impulsividade. Essas características podem variar de criança para criança, mas o denominador comum é a dificuldade em manter a concentração e o controle dos impulsos.
Pesquisas na área da neurociência indicam que o TDAH está relacionado ao funcionamento do córtex pré-frontal, uma área do cérebro responsável pelo planejamento, controle de impulsos e atenção. A genética desempenha um papel significativo no desenvolvimento do transtorno, mas fatores ambientais também podem influenciar.
Identificar o TDAH pode ser um desafio, pois alguns sintomas podem ser confundidos com o comportamento natural de crianças ativas. No entanto, quando essas características começam a impactar negativamente a vida acadêmica, social e familiar da criança, é hora de investigar mais profundamente.
PRINCIPAIS SINTOMAS DO TDAH: O QUE OBSERVAR?
DESATENÇÃO
Crianças com TDAH podem parecer estar sempre “no mundo da lua”. Elas têm dificuldade em focar em detalhes, frequentemente cometem erros por descuido e evitam atividades que exigem esforço mental prolongado, como fazer a lição de casa ou ouvir uma explicação detalhada. É comum que percam objetos ou esqueçam tarefas, mesmo as que acabaram de receber.
EXEMPLO REAL:
Pedro, o filho de Luísa, constantemente esquecia de entregar os deveres, mesmo depois de passarem horas juntos revisando o material. Em uma conversa com a professora, Luísa descobriu que Pedro muitas vezes começava as atividades, mas não as concluía, deixando tudo pela metade.
HIPERATIVIDADE
A hiperatividade é o sintoma mais facilmente reconhecido pelos pais e professores. Crianças hiperativas estão sempre em movimento, mesmo quando se espera que fiquem paradas. Elas tendem a se mexer na cadeira, correr em momentos inadequados e falar excessivamente.
EXEMPLO REAL:
Durante as refeições, Pedro não conseguia permanecer sentado por mais de cinco minutos. Ele se levantava para pegar objetos, balançava as pernas sem parar e, muitas vezes, interrompia as conversas dos adultos para contar algo que acabara de pensar.
IMPULSIVIDADE
A impulsividade se manifesta em comportamentos sem pensar nas consequências. Crianças impulsivas podem interromper os outros constantemente, responder antes de ouvirem a pergunta completa e têm dificuldade em esperar a sua vez. Essa característica pode levar a problemas sociais, já que essas crianças podem ser vistas como “mal-educadas” pelos colegas.
EXEMPLO REAL:
Pedro frequentemente interrompia a professora na sala de aula, respondendo às perguntas antes mesmo de ela terminar de falar. Nas brincadeiras com os amigos, ele queria sempre ser o primeiro e ficava frustrado quando tinha que esperar.
QUANDO OS SINAIS SÃO UM ALERTA: DIFERENCIANDO O TDAH DE COMPORTAMENTOS NORMAIS
É importante destacar que todas as crianças, em algum momento, apresentam comportamentos como desatenção ou hiperatividade. O diferencial do TDAH está na frequência e na intensidade desses sintomas, além do impacto significativo na vida diária da criança.
Um fator chave para o diagnóstico do TDAH é observar se os sintomas estão presentes em mais de um ambiente. Se a criança demonstra dificuldade de concentração apenas na escola, pode ser uma questão relacionada ao ambiente escolar e não ao transtorno em si. No entanto, se os comportamentos persistirem em casa, na escola e em atividades sociais, é hora de procurar ajuda especializada.
COMO BUSCAR AJUDA RÁPIDA: O CAMINHO PARA O DIAGNÓSTICO E O TRATAMENTO
PASSO 1: CONVERSE COM A ESCOLA
O primeiro passo para os pais é entrar em contato com a escola. Professores são aliados importantes na identificação precoce do TDAH, pois estão em contato diário com a criança e podem relatar comportamentos que os pais talvez não tenham observado. No caso de Pedro, foi a professora que primeiro levantou a suspeita, após notar a repetição de alguns comportamentos ao longo do ano letivo.
PASSO 2: PROCURE UM PSICOPEDAGOGO OU NEUROPSICÓLOGO
O próximo passo é buscar uma avaliação com um psicopedagogo ou neuropsicólogo, profissionais capacitados para identificar e diagnosticar o TDAH. Eles utilizam questionários, observações e testes padronizados para mapear as dificuldades da criança e confirmar o diagnóstico. Uma avaliação detalhada pode levar tempo, mas é essencial para garantir que as intervenções corretas sejam aplicadas.
PASSO 3: INICIE O TRATAMENTO ADEQUADO
O tratamento do TDAH geralmente envolve uma combinação de intervenção psicopedagógica, acompanhamento psicológico e, em alguns casos, medicação. O foco principal é ajudar a criança a desenvolver estratégias para lidar com suas dificuldades e, assim, melhorar seu desempenho acadêmico e social. A medicação, quando necessária, deve ser monitorada de perto por um psiquiatra infantil.
No caso de Pedro, após o diagnóstico de TDAH, Luísa começou a participar de sessões de orientação parental, onde aprendeu técnicas de manejo comportamental que ajudaram a melhorar a rotina familiar. Com o suporte correto, Pedro passou a ter mais foco nas atividades escolares e a conviver melhor com os colegas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: A IMPORTÂNCIA DO APOIO CONTÍNUO
Identificar o TDAH cedo e buscar ajuda rápida pode transformar a vida da criança e da família. Lidar com o transtorno requer paciência, compreensão e apoio contínuo, tanto da família quanto dos profissionais envolvidos. Por isso, se você notar algum dos sintomas descritos em seu filho, não hesite em buscar orientação. Com o tratamento adequado, crianças com TDAH podem levar uma vida plena e produtiva.
Lembre-se de que cada criança é única e pode responder de maneira diferente às intervenções. O importante é garantir que ela receba o suporte necessário para alcançar seu potencial máximo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- American Psychiatric Association. (2013). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-5).
- Barkley, R. A. (2015). Attention-Deficit Hyperactivity Disorder: A Handbook for Diagnosis and Treatment. Guilford Press.
- Souza, D. L., & Oliveira, M. F. (2020). “Intervenções Psicopedagógicas no TDAH: Eficácia e Melhores Práticas”. Revista Brasileira de Psicopedagogia, 37(113), 87-95.
- Wilens, T. E., & Spencer, T. J. (2010). “Understanding Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder From Childhood to Adulthood”. Postgraduate Medicine, 122(5), 97-109.